|COMENTÁRIOS| ATYPICAL 2ª TEMPORADA - COMPLETA

Por: Nataly Oliveira

A segunda temporada de Atypical adentra nos conflitos familiares da família Gardner: Elsa em busca de uma 'aventura', relaciona-se com o barman e após Casey deixar clara a traição num post-it, a família começa a se dissolver. Colocada para fora, Elsa procura se reerguer só, mas ao mesmo tempo buscar seu espaço de volta ao âmbito familiar, o que ela tentará durante toda a temporada – restabelecer sua relação com o marido e filhos. Também é de destaque a ida da Casey para a novo colégio – a Clayton, onde de início não era bem aceita, até mesmo pela questão de rivalidades com as garotas do time de atletismo. Sua amizade com Izzie começa de maneira inusitada, por conta de uma detenção. A amizade se desenvolve num clima apreensivo, sempre deixando no ar se a Izzie realmente é amiga, ou apenas quer uma brecha para ‘destruí-la’. 

Ao mesmo tempo, a conquista da independência de Sam é visível, onde de início, sozinho na antiga escola – a Newton, agora sem o auxílio da sua irmã, terá que aprender a viver sozinho. Sam, apesar de ser um adolescente enquadrado no TEA [o que poderia para muitos ser um fator limitante], experimenta coisas que qualquer adolescente neurotípico teria oportunidade: romances, a amizade sincera do Zahid, passar uma noite na delegacia, a dúvida para qual universidade ir... Ele percebe que seus desenhos são muito mais que hobbies, que podem ser um passaporte para a tão sonhada vaga na universidade. Analisando por esse lado, pode-se perceber que a série quer mostrar que um diagnóstico de transtorno não pode ser usado como parâmetro para a acomodação, para a ideia de incapacidade.

[SPOILER ALERT]

Mas o que mais me chamou atenção foi Casey e toda a sua trajetória nas duas temporadas, seu namoro com Evan e seus conflitos na Clayton. Casey é diferente das habituais adolescentes populares estadunidenses. Ela começa seu namoro com Evan (um rapaz muito legal por sinal) ainda na primeira temporada. Esse namoro se desenvolve como uma relação saudável, e sem conflitos marcantes. Evan se mostra muito sensato e respeitador. Contudo, na Clayton conhece Nate, e a série até certo ponto parece deixar implícito que algo pode rolar entre os dois, apesar de Izzie namorá-lo (nesse momento ambas já têm uma relação de amizade). A amizade das duas se fortalece, e Nate em certa noite, tenta beijar Casey e ela o afasta e diz não ser certo – não há uma retribuição por parte da mesma. Ao contar à Izzie o acontecido por meio de um bilhete, ambas acabam se afastando por conta do garoto ter colocado a culpa na Casey. No E09S02, na festa de aniversário de 16 anos de Casey, as duas se aproximam novamente e rola um clima (ALGO QUE ANTERIORMENTE SE FEZ IMPLÍCITO) e ambas quase se beijam, mas são surpreendidas por Elsa ao abrir a porta, e assim se afastam. Tudo isso me fez pensar a respeito da 'descoberta' da sexualidade num adolescente. Me fez também pensar sobre todo um estereótipo que se faz presente num jovem LGBTQ+ e como isso se enquadra num estigma social. Casey pertenceria a este estereótipo? Uma jovem diferente, não tão feminina ao ver de um constructo social de feminilidade, já abrindo margem para uma possível desconfiança da sexualidade da mesma [por parte do espectador]. Será que a série, sem intenção para tal, reforçou tal estereótipo? Depois do acontecido, Casey busca a todo momento autoafirmar sua heterossexualidade por meio da fala, relação sexual, uma forma de autoconvencimento por parte da mesma. O ponto alto da segunda temporada foi deixar todos os questionamentos a respeito dela e de Izzie, para uma suposta terceira temporada. Muito curiosx a respeito de como a série adentrará nesse aspecto em questão sem ‘forçar mais ainda a barra’.

[FIM DO SPOILER]

Enfim, Atypical é uma série cativante, que nos mostra que a diferença pode ser algo novo, mas não adjetivado como ruim, apenas diferente. E dentro dessa diferença, as especificidades pertencentes às subjetividades se fazem presente, e podem sim ser trabalhadas, renovadas, evoluídas, aceitas. Que determinada limitação não deve ser usada, nem vista como empecilho para alcançar objetivos. Se estão em busca de uma série leve, linda e cativante, assistam Atypical!