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|COMENTÁRIOS| ANNE WITH AN E 3ª TEMPORADA - COMPLETA


Sobre a terceira temporada de Anne With an E: eu não sabia que precisava tanto de uma temporada, até tê-la. Cada episódio parecia uma obra de arte a ser contemplada gradativamente, ao longo de 10 episódios. A série não mudou o tom que agradou o público ao longo das outras duas temporadas: ideais progressistas em oposição a um pensamento retrógrado e conservador da época.

A temporada se iniciou com a busca das origens de Anne (Amybeth McNulty). A garota reflete sobre vínculos, sua relação familiar e o desejo de ser aceita, e/ou pertencer a um grupo. Tudo deriva do fato da mesma ser órfã, e essa busca renderá muitos momentos tristes e felizes.

Como sempre, as problemáticas sociais não deixaram de ter enfoque nessa temporada.
A temática racismo não deixou de ser expressa ao longo da trama, e nos deu a percepção do quanto havia uma segregação entre as pessoas brancas e as "pessoas de cor" - como as pessoas negras eram chamadas. Também foi visto os arranjos familiares de famílias negras, e suas dificuldades econômicas e sociais. De maneira bastante natural vimos a crença, que sendo parte do imaginário coletivo, retrata a pessoa negra de forma rígida e fria, em que a mesma se vê na obrigação de ser frígida, não demonstrando sentimentos por mais que os tenha ou os sinta.  

Foram retratadas as diferenças econômicas que perpetuam as relações, e que por vezes constituem-se como abismo para que relações saudáveis e possivelmente duradouras possam se estabelecer de maneira firme.

Houve lugar também para a reflexão acerca do lugar da mulher na sociedade, e as convenções às quais são expostas. A impossibilidade de escolha diante de assuntos que envolvem diretamente o sexo feminino, e o quanto as relações de gênero influem diretamente acerca do comportamento da mulher no âmbito social. 

De grande importância também, foi mostrar sobre a vivência indígena, desde o início da temporada, e todo o preconceito que cerceia-os; a imagem de que são "selvagens" e a necessidade de civilizá-los, os catequizando e fazendo com que afastem-se da sua cultura, língua e origem. Ao final da temporada esse plot mostrou-se sem resolução, o que me deixou bastante triste.

Há de se elogiar, como sempre, a fotografia da série. Anne with an E, é uma série com uma estética maravilhosa, e que nos remonta a um cenário condizente à época ao qual se propõe a retratar. O que é mais inspirador é a capacidade da série retratar uma era diferente da nossa, e causar uma reflexão hoje acerca desses assuntos, porque os mesmos ainda são recorrentes e atuais.

Preciso destacar também o carisma da atriz que interpreta Anne, e o quanto diversos assuntos são abordados com cautela e de maneira responsável. Sabe-se o quanto é difícil falar sobre racismo, preconceito ou machismo em séries e afins, sem cair em estigmas. E a série cumpre bem a proposta de abordar tais assuntos de maneira otimista, contudo realista, na medida do possível em se tratando de ficção.

Ademais, num contexto mais amplo a série conseguiu entregar um fim satisfatório para a temporada, que infelizmente será a última, se estabelecendo como o fim de um arco, da vida de Anne e da maioria dos personagens que a cercam.  

Por: Nataly O.

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