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|COMENTÁRIOS| THE RAIN 1ª TEMPORADA - COMPLETA




AVISO DE SPOILERS: essa resenha revela acontecimentos ao longo de toda a temporada. 

Cuidado com a chuva, pois uma gota é fatal. A nova série apocalíptica da Netflix apresenta uma zona de quarentena, onde o perigo está em cada rio, planta e animal. Depois de se aventurar pelo Brasil, Alemanha, Japão e outros, chegou a vez de conhecermos uma produção dinamarquesa. 

The Rain obriga os espectadores a dar o benefício da dúvida. Ao contrário das novelas brasileiras, que repetem atores incansavelmente, todos os rostos são novos para nós e suas performances não decepcionam. Temos a oportunidade de conhecer cada um dos principais personagens, mesmo com apenas oito episódios, ao terem um episódio dedicado a cada um. 

A história inicia-se em ritmo frenético: Simone (Alba August) e seus amigos estão se preparando para apresentar um trabalho na escola, quando são interrompidos pelo pai dela Frederik (Lars Simonsen). Ele veio busca-la as pressas, porque sabe o que está prestes a acontecer, e alerta os colegas para buscarem abrigo urgentemente. Sua mãe (Iben Hjejle) e seu irmão mais novo, Rasmus (Bertil de Lorenzi), estão aguardando no carro. 

Enquanto a tempestade se aproxima, o carro voa pela estrada até se envolver em um acidente. Desesperado e sem revelar o que está acontecendo aos filhos, o pai decide continuar o caminho a pé pela floresta. Afinal, todo o suspense envolve uma, certo? Quando as primeiras gotas ameaçam a cair e o espectador está na beira do assento, a família chega em um bunker da empresa Apollon. Pode-se dizer que essa é uma palavra muito utilizada ao longo da temporada e dessa resenha.

Lá dentro há tudo o que é necessário: mantimentos, tecnologia e roupas de proteção química, uma delas não vai ficar ali pegando poeira. Eles mal chegaram e o Frederik já vai cometer a primeira burrice imposta pelo roteiro: sair na chuva usando a roupa de proteção, porque ele é “o único que pode salvar o mundo”. Ao se despedir, diz à Simone que o irmãozinho é responsabilidade dela e nada deve acontecer a ele. Rasmus é a chave de tudo, mas de tudo o quê? A chuva está contaminada com o vírus mais poderoso que já existiu, levando à morte qualquer ser-humano que tocar uma gota e a Divisão 45 da empresa na qual o pai trabalha é responsável. Entretanto, o mais novo foi injetado com uma versão beta do vírus ao ficar muito doente, originalmente o vírus era para matar superbactérias e ajudar as pessoas, o tornando imune. (Algo que só os pais sabiam)

Pouco tempo depois, nos aproximamos da segunda besteira, testando a inteligência do espectador. Alguém bate na porta do bunker. Se o pai consegue abrir a porta com suas digitais, por que ele não entraria? Sem pensar, os filhos escapam da mãe e vão abrir, deparando-se com a morte. Um homem contaminado quer abrigo e agarra o menino. Não demora muito para a matriarca aparecer e se sacrificar para salva-lo, ela luta contra o invasor em meio a chuva e se torna uma das milhares vítimas. Ambos agonizam no chão, enquanto a filha sela a porta, atendendo ao último pedido da mãe.
Eles estão sozinhos e não há tempo para luto. Buscando por respostas, os irmãos procuram uma maneira de se comunicar com o mundo exterior, não há sinal de celular e descobrem que aquele não é o único bunker. Há dezenas espalhados por toda Dinamarca e não conseguem se comunicar com nenhum. Vá se acostumando com tamanho azar. 

Em seguida, Rasmus encontra um rádio e a irmã consegue falar com um estranho, Phillipe, que sabe tanto quanto eles. De acordo com ele, as linhas de telefone estão congestionadas e o caos se instalou, mas concorda em tentar entrar em contato com pai de Simone. Ele não consegue, mas acredita que Simone poderá encontra-lo no ponto de evacuação: o hospital. Infelizmente, a comunicação é cortada junto com a energia do lado de fora. Ela é obrigada a tomar uma decisão difícil: deixar o irmão sozinho e tentar encontrar Frederik em meio ao caos ou esperar por seu retorno. 

Flashforward de seis anos e ninguém saiu do bunker. Nos deparamos com uma versão crescida de Rasmus, agora interpretado pelo belo Lucas Lynggaard Tønnesen, o nosso crush dinamarquês. Além disso, Simone cortou os fios loiros e está mais adulta, há uma semelhança entre ela e a atriz Emily VanCamp. 

Como era esperado, eles estão ficando sem comida e precisam fazer algo a respeito, não há alternativa além de sair para procurar. Simone veste o traje de proteção e sai no meio da noite, acompanhada apenas de uma lanterna. Esse é um momento tão clichê que chega a ser irritante, ela não poderia ter saído durante o dia? Se a ideia era não ser vista por qualquer sobrevivente, falha miseravelmente, por ficar gritando aos quatro ventos se há alguém ali. Após visitar o hospital repleto de esqueletos horrendos e ter um péssimo encontro com um coiote ou cão raivoso (sou de humanas, sorry), decide voltar e não percebe estar sendo seguida.

Dois dias depois, eles estão descansando para ir embora, pensando serem os únicos sobreviventes e que o maior risco é se molharem. Ah, como estavam enganados. O bunker entra em modo de emergência, por falta de oxigênio e se arrastam para o lado de fora, deparando-se com um grupo de invasores e uma arma apontada para suas cabeças. São feitos de reféns em uma sala, saqueados e prontos para serem deixados para morte, mas Simone tem uma ideia. Utilizando o tablet, apaga todas as luzes para chamar a atenção do líder, Martin (Mikkel Boe Følsgaard), e a tela banha o ambiente com a luz azul de um mapa para outros bunkers.

Se o grupo quer comida, terão de leva-los junto. O primeiro momento badass da irmã acontece: ela quebra o equipamento e agora o mapa só existe em sua cabeça. Todos arrumam as suas coisas, sendo liderados cegamente por ela, tendo a esperança de encontrar mantimentos antes que um dos membros, Lea (Jessica Dinnage) sucumba. A loira não estava mentindo, eles não encontram apenas isso, mas a primeira pista para o paradeiro de Frederik: ele foi para a sede da Apollon na Suécia. Em uma jornada em busca de esperança, o grupo se une aos irmãos e partem em direção a única ponte ainda de pé: a Ponte Longa, que liga os dois países. 

Durante a jornada, eles devem encarar perigos externos como a chuva mortal, sobreviventes que deixaram de ser humanos há muito tempo e Os Forasteiros. Os últimos são funcionários da Apollon que sequestram todos que encontram, injetando a versão pura do vírus em busca de alguém imune. É a única esperança para desenvolverem uma vacina. 

Há também os demônios internos de cada um. Beatrice (Angela Bundalovic) usa pressão psicológica para conseguir o que quer, mentindo sobre como perdeu a família e fazendo as pessoas terem pena dela. Ela também sente ciúmes de Simone por estar se aproximando do líder, seu atual parceiro. Consequentemente, decide seduzir Rasmus e isso trará consequências fatais.

Jean (Sonny Lindberg) é outro personagem com um passado misterioso. Ele acaba encontrando uma família que cuida dele após a chuva, porém eles são assassinados pelos Forasteiros. Entretanto, o sangue da filha surda do casal está nas mãos dele: ao tentar fazê-la ficar quieta acaba a sufocando.
Após Rasmus ser esfaqueado por um homem, eles seguem os rumores sobre uma médica na cidade vizinha. Na verdade, é uma ex-funcionária da Divisão 45 com sede de vingança, tentando assassinar o garoto com uma seringa carregando o vírus. Poucos metros dali, Jean reencontra o assassino do casal e decide fazer justiça com as próprias mãos e sendo capturado. 

Temos a oportunidade de conhecer a história de Lea no meio da temporada, ao encontrarem abrigo em uma mansão assustadora no meio da floresta. É uma espécie de culto e tudo é perfeito demais, algo questionado por Martin. Lá, eles possuem o próprio poço de água limpa, plantam vegetais em uma estufa protegida da chuva e todos passam o dia meditando. Como nem tudo que reluz é ouro, é durante o banquete mensal que eles descobrem a verdade. Canibalismo: cada vez um membro é sorteado para ser sacrificado. Misericórdia. 

O membro da vez é Lea, mas uma senhora impede: Anna (Thea Glindorf). A senhora lembra da falecida filha e se sente tocada com a história da garota, sacrificando-se no lugar dela. 

O grupo segue em frente, Os Forasteiros estão se aproximando e Rasmus não pode continuar. Mentira. Ele foi seduzido por Beatrice e inventa estar sentindo dor, fazendo o grupo se separar para ficar com ela. Os dois ficam aguardando em uma pedreira, enquanto o resto segue para o próximo bunker. Nesse, encontram um tablet repleto de vídeos sobre as experiências conduzidas por um cientista a mando de Frederik, além de bebida. O melhor amigo de Martin, Patrick (Lukas Løkken) está chateado e em meio a uma crise existencial, nada melhor do que se afogar em álcool, certo?

Bêbado e com raiva, empurra Simone para debaixo da chuva e grita para Martin pegar a arma para assassiná-la. Felizmente, Martin está loucamente apaixonado e não consegue, além de perceber que há algo errado: por que ela não está no chão agonizando? A chuva não está mais contaminada. E no meio de uma cena clássica de filme, todos pulam de felicidade enquanto são banhados por aquilo que temeram por seis anos. Os pombinhos apaixonados também aproveitam para se beijarem, mais clichê impossível. Shippei.

Ao mesmo tempo, Beatrice e Rasmus estão dançando na sala de uma casa, quando uma gota de chuva pinga do teto direto para o rosto da mais velha. Em um momento Romeu e Julieta, o ruivo a beija e diz que irá morrer com ela. 

Se a chuva não está mais contaminada, por que ela acorda morta na manhã seguinte? Para aqueles que prestarem um pouco de atenção na narrativa, lembrarão que animais são hospedeiros do vírus. Beatrice foi lambida no rosto por um cachorro previamente mostrado e a mente de Romeu entra em parafuso.

Se ela está morta, o mocinho não quer viver. Utilizando o walkie-talkie encontrado em um dos carros dos Forasteiros, entra em contato e pede que venham busca-lo. O pedido é prontamente atendido, pois suspeitam que o garoto seja imune. Os funcionários capturaram Patrick após ele ser expulso por tentar matar Simone. O boca grande está chocado com a notícia do outro estar vivo, mesmo tendo contato com Beatrice, e não pode deixar de compartilhar com seus carcereiros.  É impressionante como esse roteiro é conveniente. 

Há um confronto entre os membros restantes do grupo e os carcereiros, mas nenhum dos lados vence. As referências à clássica obra de Shakespeare não param: em uma tentativa de suicídio, o ruivo pega a seringa contendo o vírus, aquela da médica, e usa em si mesmo. Chocando apenas os personagens, sobrevive e a confirmação da imunidade acontece.

Assim, bem e mal se juntam a caminho da sede de Apollon, o destino da humanidade está nas veias dele. Ao chegar lá, ocorre o embate final entre pai e filhos. Em mais um plot sem surpresas, Frederik está vivíssimo e em busca da cura, além de preocupadíssimo. 

Durante um flashback, é revelado que ele voltou ao bunker no dia seguinte a chuva. Sabendo que o filho morreria durante o processo de criação da vacina, fingiu a morte deles e nunca mais voltou. Esperava que algum dia encontrassem um substituto para ele. Simone não está nada feliz com isso.
No meio tempo, o resto do grupo está em outro bunker, essa série só tem um tipo de cenário, recebendo um complexo. Até parece que alguém em sã consciência tomaria qualquer coisa vinda dos vilões! Agora eles não podem atravessar o muro sem acabarem na cova: o satélite fará com que o conteúdo do comprimido se espalhe.

Por fim, é revelado uma mutação no vírus. O ruivo pode ser imune, mas ainda é um hospedeiro e transmissor. Simone quer tirá-lo de lá e o pai tem outros planos, é um risco deixa-lo a solta. No meio de um ambiente caótico na empresa, Frederik erra o tiro, acertando Martin e sendo derrubado pelo grupo. Nessa hora o coração fica na mão, o militar é o meu favorito. 

Chegamos à penúltima cena, os irmãos devem deixar os amigos para trás e atravessar o muro. E a pergunta surge: qual storyline poderia ser criada em um cenário não apocalíptico? A personagem tomaria tal atitude egoísta, colocando em risco o mundo todo? Não, a série não está pronta para isso. Simone decide dar meia-volta para ficar com aqueles que ama (romanticamente ou não).
Finalmente, o vilão aparece. Em uma espécie de sala aquário, reunido com investidores para apresentar a arma mais mortal já criada. O vírus não foi um acidente, não passa de uma jogada comercial para controlar o mundo. 

The Rain possui uma bela fotografia, podemos perceber o investimento no cenário e a renovação do tema apocalíptico. Depois do piloto, é impossível desgrudar os olhos da tela e não ficar com um pouquinho de medo da chuva. Porém, não podemos deixar de lado os diversos furos. Por exemplo, o porquê do comportamento de Beatrice. 

Sem contar o crescimento dos personagens e como eles não estão mais no escuro. Acredito na renovação e espero uma segunda temporada bem diferente da primeira, será que veremos o outro lado do muro? Martin irá sobreviver? Quem serão as próximas vítimas de Rasmus? Como tudo isso começou? Por que a chuva não está mais contaminada?

Foi interessante ver um pouquinho de uma produção dinamarquesa, algo que não possuímos tanto contato e conhecer alguns atores muito talentosos. Só nos resta esperar por uma continuação.

Onde passa na tv: Netflix 

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