|COMENTÁRIOS| THIS IS US 2ª TEMPORADA - COMPLETA
Reflexões acerca de relacionamentos, casamento, adoção, racismo, vícios. É assim que se inicia a segunda temporada de This is Us. Jack e Rebecca “dando um tempo”, Jack aceitando que tem um vício e precisa de tratamento, e Rebecca disposta a lhe dar o apoio necessário. Claro, que no entorno disso, as questões do pai de Jack alcoólatra vêm à tona, e com elas, o desejo de não se tornar aquele a quem ele almejou se distanciar do mau exemplo.
Randall adota Deja, e no início tem bastantes dificuldades em relação à adaptação da garota. Ela vem de uma família com uma má estrutura, mãe supostamente envolvida no mundo do crime, em uma situação de alta vulnerabilidade, entre idas e vindas em diversos lares adotivos. Com isso, mesclas de Randall ainda criança aparecem, momentos bem explícitos de um racismo velado por parte da avó materna dele, mas expostos por Rebecca, sua filha. De como o racismo também pode se manifestar em formas disfarçadas e despretensiosas; seja a fim de amenizar um ódio, preconceito, ou aversão à quem é diferente. É interessante o quão Rebecca e Jack tentam ser didáticos e leves ao explicar a Randall mesmo criança, o que é racismo e de quais formas pode se apresentar.
This is Us tem uma maneira única de abordar os assuntos a que se propõe. É leve, intensa, delicada, mas sem perder a seriedade e o foco. Vemos muito disso, no esforço dos pais dos trigêmeos em estabelecer uma boa relação entre Kevin e Randall. Para reforçar a idéia de amor fraterno e união, surge na história, um irmão de Jack, chamado Nicky, que até então não me recordo de ter sido mencionado anteriormente. Pouco se falará dele em toda a temporada, mas é destacado a importância que Jack lhe dava.
Kate engravida, e depois tem que lidar com a perda do bebê durante uma queda, que ocasionará um aborto acidental. Com essa perda, é como se se manifestasse um gatilho em sua vida, e ela tem de aprender a passar pela fase do luto - que não aprendeu durante, nem depois da morte do pai - coisa que pelo visto só a mãe Pearson soube lidar.
Viver o luto, e encarar de frente uma perda em nossas vidas é um passo para manter uma boa sanidade. Todos amavam Jack. Mas, principalmente Kate e Kevin, mascararam os efeitos dessa perda e acabam sofrendo com sentimentos reprimidos, que se manifestam por meio de ansiedade, alimentação desregrada, dificuldade de interação, autossabotagem, vícios e o não-aprendizado em frente às frustrações.
Todo o plot em volta da adoção de Deja e a prisão de sua mãe biológica Shauna, é também uma crítica ao sistema judiciário/criminal, e o quanto ele é punitivo e desregrado quanto às sentenças dadas principalmente à pessoas negras. Algo que vai além do veredicto dado pelos juízes, mas por uma constituição que visa perpetuar desigualdades e criar um abismo ainda maior de oportunidades entre brancos e negros.
Nos mostra o quanto é burocrático a adoção de uma criança, e o quão problemático é para a mesma pular de casa em casa, em busca de pais abertos a recebê-la, sem preconceitos nem "preferências" que só criam mais distanciamento.
Kevin depois de ser preso, por dirigir bêbado, enfim vai para uma clínica de reabilitação, e começa finalmente sua terapia. Quando reunidos, para uma terapia familiar, Kevin conta qual era seu sentimento quando criança, ao se sentir posto de lado pelos seus pais. Sempre achava que não "era o suficiente", e então recorre ao futebol, atuação, fama, como forma de obter a atenção que nunca teve de seus pais. Por vezes, parece que Kevin é só alguém que quer atenção, mas no episódio da cabana por exemplo (S02E11), quando Kevin acorda no meio da noite tempestuosa, vê que seus irmãos não estão na cama deles. Acha o óculos do Randall (o qual tinha sido acusado injustamente de ter pego) e quando vai ao quarto dos pais devolver, estão os quatro lá deitados juntos, e ele sozinho. Isso nos faz refletir o quanto coisas que nos acontecem na infância, nos acompanham por todas as fases da vida.
Só que no fim do episódio vem uma explicação de Rebecca. Ela sempre achou que Kevin não precisava de tanta atenção, porque ele sempre se virou bem sozinho. O que não era tão verdade assim, e hoje ela percebia isso. O episódio acaba com o flashback da noite na cabana, com Kevin deitado no chão do quarto. Rebecca acorda, o vê, e decide deitar ao lado dele. Esse pra mim foi o episódio mais triste até o momento, justamente por me remeter a várias situações e sentimentos. Foi até uma maneira melhor de entender quem é o Kevin, perceber que ele não é apenas um mimado em meio a toda a história.
Além disso, no episódio 14, a morte de Jack é narrada [finalmente]. Para mim foi algo inesperado [muito], e bastante triste. Nos episódios seguintes, até o fim da temporada, são contadas as histórias de Shauna e Deja, e o casamento de Kate e Toby.
O casamento é o clímax da temporada, porque nele são sanadas dúvidas, colocadas questões vitais em evidência, e são mostrados pequenos momentos posteriores dos trigêmeos, e suas vivências, tristezas e apreensões futuras.
Essa foi uma ótima temporada, onde diversos temas foram abordados. Ficou claro o quanto de amor há em torno dos Pearson, mas que não são perfeitos, e que sim, terão problemas, problemas estes que o perseguirão até a fase adulta. Contudo, fazendo um balanço geral, é impossível não se emocionar nos episódios, porque além da carga emocional que trazem, há também um apego involuntário a cada um dos personagens, e a identificação com muitas das vivências deles. Eu amo de paixão essa série, e a recomendo demais, principalmente para quem gosta de um bom drama.
Por: Nataly Oliveira
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