|COMENTÁRIOS| THE OUTPOST S01XE01 - ONE IS THE LONELIEST NUMBER
Por: Amanda Dias
O menor canal de TV aberta americano, The CW, iniciou em 2018 seu projeto de expansão. Entre as mudanças, está a criação de programação para a summer season, quando o verão americano atrai o público jovem. A fantasia The Outpost é sua primeira aposta, mas será que foi uma boa escolha?
A primeira temporada possui dez episódios e acompanha a jornada de Talon, interpretada pela atriz estreante do canal: Jessica Green (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar). A personagem é a última de sua espécie, os blackbloods (tradução livre: sangre negros), que busca vingança contra os mercenários que destruíram sua vila. Ela embarca em uma jornada em direção ao forte nos limites do mundo civilizado e descobre poderes sobrenaturais, que eventualmente serão utilizados para lutar contra um líder religioso fanático (Philip Brodie). Entre os outros nomes do elenco se destaca Kristian Nairn, o Hodor de Game of Thrones.
O piloto começa de supetão, sem introdução, narração ou qualquer coisa que pudesse ambientar o espectador no mundo fantasioso. Em uma taverna medieval, Talon encontra Gunter (David Ury), um velho moribundo responsável por tatuar um símbolo nos homens que destruíram sua vila, mas ele recusa a revelar as identidades. De repente, guardas que aparentam ter emprestado suas armaduras de um filme B dos anos 90, invadem o local e afirmam que jogos de azar são proibidos pela Ordem.
A ideia de introduzir uma cena de luta entre os camponeses e a Guarda em menos de dois minutos, parece uma tentativa desesperada de atrair a atenção do público. Porém, a falta de informação sobre o que está acontecendo somada a uma luta mal coreografada causam o efeito inverso.
Em troca de revelar os nomes, Talon e seu amigo, Erik (Julian Cihi), conseguem tirar o moribundo de lá. No meio da floresta escura e encoberta por um nevoeiro, ele apenas tem tempo de revelar os nomes de dois dos sete mercenários: Toru Magmoor (Richard Ashton) e o líder Tiberion Shek (Cokey Falkow). Em seguida, recebe uma flechada mortal de um guarda, o timing é muito conveniente.
Eles fogem em direção ao leste, em uma tentativa de despistar o inimigo, entrando no território habitado por criaturas monstruosas com efeitos especiais bem a desejar, é possível sentir um déjà vu remetendo a Once Upon A Time e seus gráficos. Talon quer se separar do amigo para ir até o local onde Toru foi visto pela última vez, mas Erik não quer deixa-la, porque a ama.
É inacreditável como em pouco mais de cinco minutos até um amor não correspondido foi introduzido. Antes mesmos que possa ser rejeitado, é jogado longe por um dos seres e sangra até a morte nos braços de sua amada (?). Emocionante? A única coisa que senti até agora foi vergonha alheia.
Treze anos antes... Sim, temos um flashback logo no início, o que não é algo ruim. Vemos a vila na qual Talon cresceu, habitada por seres que remetem aos elfos: com orelhas pontudas dividas em duas extremidades escuras. Deve-se destacar o esforço ao investirem em uma nova língua, além de animais fantásticos singulares. O encanto dura pouco, pois um dos animais é morto pela flecha de uma criança humana e uma briga começa, fica claro que as espécies não têm uma boa convivência.
“No one left alive! If even one blackblood escapes, this is all for nothing.” Entretanto, os blackbloods são pacíficos. É mais uma história de uma cultura dizimada por intolerantes de mente-fechada. Naquela noite, os mercenários comandados por um líder religioso, Everit Dred, incendeiam o lugar. Quando os moradores correm das chamas são massacrados.
A seguir há uma das cenas mais incômodas e extremamente clichê. A mãe de Talon (Claire J. Loy) não sabe para onde correr, ficando parada no mesmo lugar até que o Ancião (M. J. Sullivan) apareça e ordene que ela invoque algo. Carregando a filha no colo, recita um cântico e uma esfera azul caminha por sua pele. Porém, é atacada por um mercenário e o poder desconhecido é transferido para a garotinha que consegue fugir.
No fim do flashback, um assassino de olhos azuis a encontra e atira, mas sua flecha é interceptada por um braço de aparência réptil que surge de um portal azulado. Impressionado, ele lança pela segunda vez e erra propositalmente, mentindo para o líder de que a garota morreu. Será que descobriremos a identidade dele?
Na manhã seguinte, ela retorna a sua casa e encontra todos mortos, incluindo o irmão, que se perdeu da família e teve o mesmo destino que os outros. Talon segue sem rumo pela estrada à beira da floresta, carregando apenas o punhal que pertencia a sua mãe. Felizmente, ela também encontra bondade em humanos: uma mulher a acolhe, mesmo contra a vontade do marido, e para se misturar com eles decide cortar as pontas das orelhas fora.
De volta aos tempos atuais, a personagem se aproxima do Forte e obstáculos não param de surgir. Ela é atacada por humanos infectados: os plaguelings, uma versão medieval de zumbis na qual vermes saem de suas bocas. É um dos efeitos mais mixurucas que vi nos últimos tempos!
“What kind of soldier would I be if I didn’t assist? The usual kind.” Ao invés de deixa-la lidar com o problema sozinha, um grupo de soldados aparece e seu líder (Jake Stormoen) mata os infectados. Afinal, toda princesa precisa de seu salvador, não é? #Ironia
“People come here because they are running from something.” O príncipe no cavalo branco é o Capitão Garret Spears, co-protagonista de The Outpost, quem se recusa a deixa-la para trás. Juntos, o grupo foge de uma horda, que parece sair de The Walking Dead com baixo orçamento, em direção as muralhas protegidas do Forte. Lá dentro, ele questiona a razão de sua vinda, mas não parece realmente interessado e ao perceber que ela iria mentir a ajuda a criar uma história mais convincente.
Afinal, Marshal Withers (Andrew Howard) é quem precisa ser convencido. O homem é chefe daquele lugar e pai de Garret, mais um clichê para entrar na lista. Chega a ser decepcionante que ele acredita na história mal contada de Talon e permite que ela trabalhe no bar local.
No bar conhecemos brevemente dois antagonistas: Janzo (Anand Desai-Barochia) e Gwynn (Imogen Waterhouse). O primeiro é bartender do local e se encanta por Talon, enquanto a outra é noiva de Garret e está fugindo de Magmoor, por um motivo ainda não revelado. A loira é claramente uma dama em perigo e de nariz empinado, apaixonada pelo cavaleiro de armadura reluzente e será trocada pela protagonista oposta em todos os sentidos.
Finalmente, o episódio termina com a única luta consideravelmente decente: o confronto entre a principal e o mercenário. Como toda as narrativas por aí, ambos revelam seus motivos antes de lutarem, mas nenhum realmente vence. Eles recebem golpes mortais, mas um homem encapuzado aparece no último estante e a tira dali. É óbvio que a protagonista sobreviverá por causa de alguma cura milagrosa. E o mercenário em seus últimos suspiros escreve com o próprio sangue (assemelha a ketchup): “digam a Dred que um [blackblood] sobreviveu”.
One is the Loneliest Number é provavelmente o piloto mais fraco dos últimos anos da CW. É difícil compreender como tal foi a única ou melhor opção para estrear a summer no canal. Por ser decepcionante em quase todos os aspectos, ter pouca divulgação e baixa audiência, não enxergo futuro para a produção. Os únicos motivos para assisti-la são muito tempo livre, preguiça de colocar as outras séries em dia ou acreditar veementemente que qualquer coisa fica melhor após a estreia.
Não me levem a mal, eu realmente queria ter gostado! O trailer me lembrou a injustiçada The Shannara Chronicles da MTV, cancelada após duas temporadas, e acreditava no esforço do canal para entrar nessa nova fase. Infelizmente, existe um mundo fantasioso com potencial sendo afundado pelas más escolhas e pouco investimento. Deixa de ser mão de vaca, CW! Enfim, quem avisa amigo é: não adianta se apegar, porque vão cancelar.
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